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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

200 Discos Nacionais dos Anos 00 - 020 a 011

020 - Black Alien - Babylon By Gus - Vol. 1 - O Ano Do Macaco (2004)

Black Alien já gravou e/ou cantou rimas em discos do Acabou La Tequila, Herbert Vianna, Raimundos e Fernanda Abreu, além da parceria com Speed Freaks e, claro, com o Planet Hemp, onde passou a ser conhecido. Em seu aguardado disco solo após o fim do Planet, Black Alien parece que, apesar de todas suas participações por aí, ainda tinha muito pra dizer. As palavras jorram sem parar, as rimas são sempre originais e inteligentes, com boas sacações. Não bastasse isso, a produção, a cargo de Alexandre Basa (Mamelo Soundsystem, Turbo Trio) dá um molho especial ao rap e ragga de Black Alien, com batidas de hip hop se confundindo com elementos de rock ("U-Informe"), jazz, funk, reggae, dub, música clássica, filme de kung fu ("Mr. Niterói") e até música romântica ("Como Eu Te Quero"). A única coisa ruim desse disco é que até hoje não houve um volume 2.



019 - Nação Zumbi - Nação Zumbi (2002)

Com este disco, homônimo, foi que a Nação Zumbi definiu sua sonoridade. Jorge Du Peixe, no segundo disco como vocalista principal, se utiliza de manipulações eletrônicas para fazer companhia à sua voz, como dá pra ouvir em "Blunt of Judah" e "Mormaço", dois petardos que abrem o disco e trazem as características marcantes da Nação: os tambores pesados ditando o ritmo junto com a bateria de Pupilo e riffs de guitarra disparados por Lúcio Maia. O percussionista Toca Ogan canta em "Ogan Di Belê" e Rodrigo Brandão do Mamelo Soundsystem participa em "Propaganda". Mas o melhor é quando a Nação desce o braço na literal "Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada" e "Tempo Amarelo".



018 - Mombojó - Nadadenovo (2004)

Na metade inicial dos anos 90, algumas cabeças pensantes de Recife conseguiram criar uma cena cultural que ficou conhecida como mangue beat e ganhou relativa projeção nacional através de Chico Science & Nação Zumbi. Nessa cena, o regionalismo e a exaltação a termos folcóricos se misturavam a sons contemporâneos e homenagens às possibilidades que a tecnologia traz. Mombojó não usa tambores, não toca ciranda e não fala sobre guaiamuns e maracatus, mas é o mais frondoso fruto vindo do mangue beat, uma segunda geração ou um pós-mangue que deixa o regionalismo de lado e abraça o mundo, em um turbilhão de referências que nem vale a pena citar aqui, já que elas mudam em segundos. Orgânico e eletrônico em colagens inusitadas onde o ponto em comum são os teclados de Chiquinho, um cruzamento da jovem guarda de Lafayette com Stereolab. Impressiona um grupo tão jovem ter chegado a esse resultado logo no primeiro disco. "Cabidela", "Deixe-se Acreditar", "A Missa", "Merda", "Faaca", "Absorva", "O Céu, o Sol e o Mar" e "Baú" são pilares da nova música brasileira.



017 - Acabou La Tequila - O Som da Moda (2004)

Gravado em 1999, o segundo disco do Acabou La Tequila corria o risco de nunca ser lançado devido a desentendimentos com a gravadora e, talvez, falta de perspectiva dos integrantes em relação ao grupo, que foi se dissolvendo. Somente 5 anos depois o guitarrista Kassin, ganhando fama como produtor e membro do +2 lançou através de seu selo Ping Pong. O grupo é quase um "best of" da música carioca atual. Além de Kassin, há Renato Martins no vocal, hoje no Canastra; Donida no baixo, que se transformaria depois em guitarrista trve metal do Matanza; o baterista Nervoso, hoje cantor solo e do Lafayette e os Tremendões; e outro baterista (eram dois!), Léo Massacre Completo, que toca na Orquestra Imperial onde Kassin também comparece. Além de um monte de outras pessoas orbitando e contribuindo. As músicas, compostas por Kassin, Renato, Donida e Nervoso (além de "Eu Era Pop", de Gabriel Thomaz) são a base de muito do que cada um faria seguindo outros caminhos: há hardcore, country, brega, reggae, pop, eletrônico etc, etc, etc, etc... O grupo segue a tradição de bandas como Mano Negra e Titãs, tentando fazer caber com harmonia, em um disco só, um monte de malucos com um milhão de idéias. Se dá certo? Ouça "Kung Fu", "Ferina", "Pensa Demais", "Mais Ou Menos", "Putrefected" e "Tranquilo" e depois me conta.



016 - Cidadão Instigado - Uhuuu (2009)

Desde o disco anterior, E O Método Tufo, ficava claro que Fernando Catatau é um grande pesquisador (ou descobridor) de timbragens de guitarras e sons que se encaixassem bonito em um conjunto. Mas esse experimentalismo nem sempre vinha acompanhado de uma composição que fosse à altura. Depois de tocar com um monte de gente, como o projeto que o coletivo Instituto faz tocando músicas de Tim Maia e produzir o último disco de Arnaldo Antunes, Catatau finalmente aliou seus dotes na guitarra com ótimas composições. O som tem até psicodelia, experimentalismo, você chama do que quiser, viagens instrumentais. Mas o jeito meio brega, meio eletrônico dá as caras com um forte apelo pop. Pop de rádio am talvez, ainda mais se a estação estiver cheia de estática, mas mesmo assim... ou justamente por isso é que funciona tão bem. O disco todo é ótimo, mas a sequência "Doido", "Dói", "Escolher Pra Quê" e "Como As Luzes" é especial.



015 - Periferia S.A. - Periferia S.A. (2004)

É uma daquelas ironias da vida que eu considere como melhor álbum punk da década de 2000 uma banda formada no fim de 1981 que durou pouco tempo (com esta formação) e que só voltaria a tocar juntos em 2004. Este é o Ratos de Porão com seus membros originais, com o guitarrista Jão nos vocais, e por mais que eu goste de Ratos de Porão, esse primeiro disco do Periferia S.A., que baixei na época sem saber exatamente do que se tratava, vai muito além do Ratos, mesmo fazendo um som punk mais, hum, comedido. Tá, não é nem um pouco comedido. As músicas são rápidas e eles trazem o estilo para o século XXI com muita propriedade e em especial com boas idéias de riffs e variações rítmicas sem perder de vista a pegada punk. As letras, como o nome da banda sugere, falam sobre a periferia e protesta contra tudo que for possível, mas diferente dos (poucos) grupos punk que ainda fazem isso e dos (muitos) grupos de rap que tomaram a bandeira do protesto, no Periferia S.A. há um certo humor ao fazer imitação do Lula no meio de "Eles" e um trecho da voz de Silvio Santos em "A Farsa do Entretenimento". Além dessas, outras faixas empolgantes são "Segunda-Feira", "Recomeçar", "Tinguá", "Não Sei", "Padre Multimídia" e "O Ataque das Testemunhas de Jeová".



014 - Rockz - Disco '08 (2008)

Eu me lembro de ter assistido há uns anos atrás na loja Baratos da Ribeiro uma apresentação do Gabriel Muzak com Pedrinho Garcia na bateria e Nobru no baixo (na época eles tocavam nos Seletores de Frequência de BNegão). Impecável e provavelmente melhor do que na época em que eles tocavam em bandas como Funk Fuckers, Planet Hemp e Cabeça, percebi que havia algo ali. Não passou muito tempo e esses três, acompanhados do baixista Daniel Martins e do vocalista Diogo Brandão, integrantes da banda Benflos, formam um grupo que faz um rock dançante, alinhado com as bandas de disco-punk que surgiam pelo mundo e tinham pouquíssimos representantes no Brasil. Que eu saiba, na época, não havia nenhum. E o Rockz já vinha com uma qualidade impressionante, a demo que havia para download já demonstrava isso, os shows também, e a expectativa por um disquinho era alta. Eis que no meio do tremendo balde de água fria que foi a saída de Diogo Brandão dos vocais, surge para download Disco '08, 13 músicas produzidas pela própria banda com qualidade sonora de nível internacional que consegue aliar ritmo com guitarras que não sossegam nunca, com fraseados sobrepostos e ainda dão espaço para o baixo de Daniel entrar no meio da conversa. Ouvindo as músicas fico espantado como eles conseguem ter espaço para tudo se sobressair ao mesmo tempo. E ainda temos as letras quase temáticas cantadas por Diogo, brincando com as palavras, com as sílabas, com o sentido delas e ainda contando histórias sobre aventuras na noite em bares e boates. Todas as músicas são demais, mas se você tiver que escolher uma pra ouvir, eu recomendaria "Ora Bolas!".



013 - BNegão & Os Seletores de Frequência - Enxugando Gelo (2003)

A primeira música do primeiro disco solo de BNegão não tem participação do BNegão. É um dub cantado por Fábio Kalunga, baixista que BNegão trouxe da banda de hardcore Cabeça, junto com o baterista Pedrinho Garcia (que já tocava com BNegão no Planet Hemp). É assim que BNegão mostra que seu nome pode estar ali na frente, mas sua personalidade aglutinadora de idéias faz com que as pessoas envolvidas tenham bastante importância na forma que o disco toma. Apesar de BNegão poder ser considerado um rapper, não consigo ver Enxugando Gelo como um disco de rap. O dub do começo, "A Palavra - O Primeiro Passo" continua rolando por todos os lados ("Seletores de Frequência", "O Opositor"), junto com funk, tanto tradicional ("Funk Até o Caroço") quanto o carioca ("A Verdadeira Dança do Patinho"), punk/hardcore com ajuda da voz podreira de Paulão que veio do Gangrena Gasosa ("Qual é o Seu Nome?") e samba-rap ("V.V."). E músicas que misturam tudo isso: "Nova Visão", "O Processo" e "Prioridades". Claro que tudo isso com rimas e frases de BNegão conduzindo tudo. E "Dorobô", com participação do já falecido Sabotage, indo do Brasil ao Japão, que é mais ou menos a viagem que dá pra fazer escutando este disco.



012 - Nação Zumbi - Rádio s.amb.a. (2000)

Este é o primeiro disco "de verdade" da Nação Zumbi após a morte de Chico Science. De toda a discografia da banda é o que também se arrisca mais, buscando o caminho que eles iriam seguir mais pra fente. Como já disseram por aí, às vezes não importa tanto o destino da sua viagem, se você vai chegar lá ou não, e sim o percurso que você faz. Se levar isso em consideração, que o caminho é o mais interessante, você vai compreender esse disco, onde começa com uma batida africana que vai ganhando novos instrumentos de percussão à medida que Jorge Du Peixe vai cantando e apresentando os pseudônimos dos integrantes da Nação (o guitarrista Lúcio Maia, por exemplo, se transforma em Jackson Bandeira) e logo a faixa se transforma e no fim você está ouvindo Lúcio Maia, digo, Jackson Bandeira se transformando em Jimi Hendrix. São duas canções, "Do Mote do Doutor Charles Zambohead" e "Azougue", coladas na mesma faixa. Esse é o serviço ambulante da afrociberdelia da Nação Zumbi, inquietante, tateando o som em volta do universo e não se importando se batidas eletrônicas vão se chocar com tambores, se ecos vão se estender além da conta, se é mangue, é rap ou é hardcore ou é miami beat pelo próprio Afrika Bambaataa, Fred 04, Tortoise, tudo se ajeita como Nação Zumbi.



011 - Móveis Coloniais de Acaju - Idem (2005)

Então aqui temos os 200 discos de uma década e este aqui é o 11º da lista e é impossível dissociar ele do show que o Móveis Coloniais de Acaju faz. Porque é a partir do show que há a vontade de chegar em casa, baixar as músicas que a banda tocou e se emocionar novamente com aquele grupo maluco com nove caras pulando e correndo de forma coreografadamente desordenada com suas guitarras, baixo, trombone, trompete, flauta, gaita e sax. A primeira impressão ao ouvir o cd é que realmente não dá pra ter a mesma sensação visual que há ao vivo, e isso sempre foi um estigma para o disco Idem. Então eu estou ouvindo ele aqui de novo, como fiz muitas vezes nos últimos anos e não dá pra deixar de se empolgar com um disco que, entre muitas influências pega as duas principais para um som festeiro: ska e música balcânica. Arranjos amalucados para melodias tradicionais do leste europeu falando sobre cérebros do tamanho de uma castanha-do-pará e informeciais estilo 1406, sambinhas para subverter contos kafkanianos, valsinha rock'n'roll contendo questionamentos filosóficos, tudo que você nunca iria imaginar acontecer é feito pelos Móveis Coloniais de Acaju em Idem.

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