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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Romulo Fróes - A Anti-Musa

Eu gostaria de falar sobre o disco duplo de Romulo Fróes, No Chão Sem O Chão, que já mostramos aqui o caminho pra baixar. Talvez fale melhor sobre o disco em algum momento. O problema é que, apesar dos dois discos serem maravilhosos, eu não consigo parar de ouvir o primeiro, brilhantemente intitulado de Cala Boca Já Morreu. E eu não consigo parar de ouvir porque sempre quero voltar para uma música em específico, apesar de outras começarem a frequentar minha obsessão também. Mas "A Anti-musa" me deixou completamente transtornado, obcecado, alucinado e bote outros adjetivos aí que não explicarão o porquê de eu achar essa música tão incrível. Vou tentar (e não conseguir) explicar, mas ouça a música aí mais embaixo antes de continuar lendo.




Rômulo Fróes - A Anti-Musa





Quando escutei da primeira vez foi de forma displicente, sem prestar muita atenção. Não tinha ouvido direito o dedilhado do violão que abre a faixa. Talvez tenha prestado atenção na bateria, não sei. As palavras iam aparecendo, mas pareciam normais, querendo retratar uma ou mais de uma cena. Até que ao 01:02 minutos da canção, Rômulo canta com sua voz grave esse verso inocente, simples, nada demais: "A Anti-musa fritando contente bolinhos de chuva". Uau. Ok, você acabou de ler a frase e está pensando: "Tá, mas o que isso tem de tão extraordinário?" E eu digo: tudo e nada, cara. Não sei exatamente o que me fez ficar impressionado com essa frase.



Talvez porque é um verso muito estranho para uma música. Alguém fritando bolinhos de chuva? E uma anti-musa? Uma heroína às avessas, um personagem de desenho, como assim? A explicação talvez estivesse no verso anterior que, fora alterações no advérbio que encerra a frase, se repete por toda a canção: "o cantor, no córner da música pensava nela finalmente". Talvez seja a história do artista que, se encontrando num beco sem saída na composição e perde a inspiração, observa a anti-musa e percebe que ela é o motivo para o seu bloqueio. Se for isso, é um tema bastante original, uma inversão do costume, falar sobre a desinspiração. Ou talvez não faça sentido nenhum. O nonsense já chega no verso seguinte ao da anti-musa fritando contente os bolinhos de chuva: "Sua cabeça pendia e rolava no azul do ladrilho". Outro ponto interessante é a repetição de frases e palavras dentro das estrofes: "válvula", "sentado", "cantor" "anti-musa", "sua", e mesmo assim elas vão formando retratos diferentes, que tendo nexo ou não, atraem.



Quanto às melodias, ritmo e estrutura da música, ela é leve, lenta, meio jazz, quase ameaçando quebrar num samba, mas nunca chegando às vias de fato. A guitarra fica intervindo, em especial no refrão, com notas agudas soltas, quase fugindo do tom, escalas doidas que casam bem com o restante do som. Até que aos 5 minutos de música o guitarrista Guilherme Held resolve encarnar o Lanny Gordin e junto com o baixista Fábio Sá e Curumin na bateria transformam a música em um rock tropicalista que parece emergido de alguma sobra de estúdio do disco Transa, do Caetano Veloso, feito em 1972. Talvez seja o próprio Lanny Gordin tocando a guitarra, eu não tenho o encarte do disco. Mas são dois caóticos minutos de solos desconstrutivos que nem parece que fazem parte da mesma canção, terminando de forma incrível essa droga de música que não sai da minha cabeça.





Letra de Anti-musa:


A válvula da panela girava
A cozinha suava vapor de sopa quente
Sentado na cadeira de fórmica
O cantor no corner da música pensava nela finalmente

A anti-musa fritando contente bolinhos de chuva
Sua cabeça pendia e rolava no azul do ladrilho
A lagartixa subindo rente ao rejunte do azulejo
O cantor no corner da música pensava nela finalmente

A anti-musa
Ao sul da janela
Quem era ele?
Quem era ela?
A anti-musa
Ao sul de Ipanema
Quem era ele?
Quem era ela?


A válvula da panela girava
Ipanema a todo vapor aqui dentro e lá fora
Sentado de frente pra Santa Ceia
O cantor no corner da música pensava nela de repente
A anti-musa na foto do bottom de geladeira
Sua boca no olho de peixe da lente da máquina
O vapor no blafon da lâmpada fluorescente
O cantor no corner da música pensava nela simplesmente

A anti-musa
Ao sul da janela
Quem era ele?
Quem era ela?
A anti-musa
Ao sul de Ipanema
Quem era ele?
Quem era ela?

A válvula do gás vedada a espuma
O bujão borbulha sabão
Sentado na beira da mesa de fábrica
O cantor no corner da música pensava nela normalmente
A anti-musa rolava um Marlboro no meio dos dentes
Sua conversa fugia e acabava na pólvora quente presente
Quem vai dizer presente?
O cantor no corner da música pensava nela finalmente

A anti-musa
Ao sul da janela
Quem era ele?
Quem era ela?
A anti-musa
Ao sul de Ipanema
Quem era ele?
Quem era ela?

Um comentário:

Bruno Silva disse...

A música é bem acima da média para a mpb. O instrumental é muito bom, principalmente a bateria e o solo no final emanando puro feeling. Mas alguma coisa não funciona aí, não sei se é o cantor mala (mesmo para os padrões da mpb) ou a letra (ótima como poesia, chata como letra de música). Talvez se o tal do Romulo Froes desse mais destaque à veia math jazz da banda ao invés do ímpeto cantor-de-barzinho dele, o resultado poderia ser melhor.