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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

E as facilidades

Afinal de contas não são só de dificuldades que são feitos os caminhos para conseguir ver um show no Rio de Janeiro. Na quinta e sexta dos dias 25 e 26 de setembro haviam boas opções, em geral bastante acessíveis.


Orquestra Contemporânea de Olinda - 25/09/08


Na quinta-feira era possível escolher entre a cantora Roberta Sá se apresentando de graça na Rua do Lavradio ou a Orquestra Contemporânea de Olinda. Escolhendo a última opção foi possível assistir um ótimo e curtíssimo show da banda, que contou com a participação de outro grupo, Liza K, naquilo que o Projeto Geringonça, o projeto que faz esse e outros shows acontecerem no Sesc Tijuca, chama de workshow. Tudo gratuito e acaba (geralmente) antes da meia-noite, apesar que poderia começar e acabar um pouco mais cedo.


Orquestra Contemporânea de Olinda - 25/09/08


O Rio de Janeiro, apesar de tudo, transpira música. É como se alguém quisesse tapar o buraco e a música saísse pelas frestas e invadisse o ambiente, como se fosse um insistente vazamento. Na sexta-feira do dia 26, partindo do bairro da Saúde, ou Gamboa, ou seja lá como se chama aquela área muito abandonada da zona portuária, era possível assistir no Largo da Prainha o bloco Escravos da Mauá se apresentando em versão show/roda de samba. O lugar ainda está abaixo do radar, depois de ter ficado extremamente popular, e justamente por isso ter sumido do mapa por uns tempos. Mas é possível notar os tipos que já redescobriram o lugar: uma turma universitária interessada na modernidade ouvindo sambas antigos enquanto o salsichão é servido em barracas a dois reais e cinquenta centavos.



Indo em direção à Praça Mauá e pegando a Rio Branco e virando na Sete de Setembro era possível chegar à Praça XV, onde João Bosco se apresentava, de forma gratuita, evento da prefeitura. Pessoas saindo do trabalho com o objetivo de pegar as barcas, com destino à Niterói passam. Algumas poucas vão parando. A maioria que já estava lá e enchia as cadeiras e locais em frente ao palco, seja por saber o que ia acontecer ou carregada pelo acaso, era de meia-idade. João Bosco tem trabalhos interessantes, especialmente aqueles lançados nos anos 70, mas não fiquei para ver o show. Ao prato principal.


Mombojó - 26/09/08


O Teatro Rival se localiza na Cinelândia. Foi lá que assisti o melhor show da minha vida, o Atari Teenage Riot. Antes ou depois daquela experiência, não foi costume do lugar abrigar grupos anarquistas de hardcore digital. De fato, nos últimos anos o Rival se notabilizou por trazer nomes novos e consagrados da MPB, sons em um espectro completamente oposto ao ATR. O João Bosco, por exemplo, já se apresentou algumas vezes por lá. Nessa noite seria um pouco diferente. O Mombojó é um grupo que você pode escolher uns 15 rótulos diferentes para definí-lo, incluindo aí MPB. Mas no fim das contas, o que eles fazem é rock. Com a perda de dois integrantes que davam uma diferença, com sopros e dedilhados de violão, e mesmo com os espaços sendo bem preenchidos pelo tecladista Chiquinho, eles agora apostam em um "básico" que faz sobressair que uma banda precisa: boas canções. Letras curtas e impactantes, combinadas com melodias memoráveis. Rock.


Mombojó - 26/09/08


O show estava marcado para nove horas e trinta minutos da noite. Considerando que estamos no Rio de Janeiro, podemos considerar que não houve atraso quando os pernambucanos entraram no palco às dez. Algo raro para quem está acostumado a assistir essa e outras bandas em outros palcos. Raro também é poder ver uma banda dessas em um lugar com conforto. Conforto até demais, já que as mesas e cadeiras postadas na frente do palco eram um elemento estranho para uma apresentação que não configurava isso. Algumas pessoas aceitam o quer que lhes seja entregue, algumas realmente devem gostar de assistir um show intenso sentadinho, outras preferem entulhar a mobília para o lado para terem espaço para dançar. Celebrar.


Mombojó - 26/09/08


O ar-condicionado do local é suficiente para que ninguém sue em bicas (muito obrigado!) ao mesmo tempo que também não transforma ninguém em picolé. Falando nisso, pode parecer frescura esse papo, mas o ponto do texto é esse: a existência de lugares que façam uma pessoa querer ir novamente. Voltando ao ponto da casa onde está a banda, o espetáculo não está só no áudio. No visual também. A iluminação e a mistura de cores geram climas e buscam ali dar um contexto ao que estamos ouvindo.

Mombojó - 26/09/08

Mombojó - 26/09/08


A banda ajuda, com a interação que tem com a platéia. Chamam duas pessoas para dançar em cima do palco uma música nova. O vocalista Felipe S desce para o meio da galera. Finais apoteóticos de músicas que são cantadas em coro por um público que não encheu o Rival, mas esteve em bom número. Mas o melhor de tudo é poder assistir um show que acaba antes da meia-noite e te dá a opção de voltar para casa de metrô. Existem caminhos.

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