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domingo, 9 de março de 2008

Bob Dylan e o público indomável

Antes de mais nada: eu não fui no show do Bob Dylan e não me arrependo, apesar de achar Blonde on Blonde e Blood On The Tracks discos clássicos que dão gosto de ouvir sempre.



Achei o mais recente, Modern Times, excelente e os dois anteriores também muito bons, em especial uma música do Time Out Of Mind me emociona, chamada "Highlands". Ela tem mais de 15 minutos e letra quilométrica. Em uma certa noite, há alguns anos atrás, Marcelo Nova (Camisa de Venus), grande fã de Bob Dylan, tinha um programa de rádio e ele resolveu tocar essa música.



Como a cada frase cantada (ou declamada) havia um bom espaço de tempo, ele foi fazendo uma tradução simultânea da canção. Foi algo inacreditável, ouvir aquela deliciosa história sem fim, daquela forma, e é o primeiro pensamento positivo que me recordo ter sobre Dylan.



Ontem à noite, lendo a comunidade do orkut mais populosa dedicada a Bob Dylan, achei graça de um rapaz que achava errado o cantor não conversar com o público (!). Ele completava o raciocínio dizendo o seguinte: "Todo artista que se preze deve bater um papo com o publico."



Atenção, artistas agora possuem REGRAS de como se portar em um show! Uau!



Mas, falando um pouco sério, a visão do rapaz não é exceção. Muitas pessoas esperam que o seu artista preferido aja da forma como eles acham que ele deve agir, da forma como é comum ver artistas pop agindo. Com simpatia, humildade e alegria. E essa nunca foi, pelo menos nos últimos 40 anos, a onda de Bob Dylan.



Talvez não seja o pioneiro, mas Dylan é certamente um dos mais importantes artistas populares a transgredir essa lógica do que se espera de um artista popular, nem sempre para alegria de todos.



Num primeiro momento pode-se justificar esse comportamento argumentando que a arte foi feita para transgredir. Poderíamos pensar também que nem toda arte transgride, às vezes ela busca simplesmente a conformação.



Mas não haveria, numa conformação, num artista que fizesse a mesma coisa por 40 anos, justamente a transgressão do que se espera de um artista que busque sempre inovar e siga como uma pedra rolando, garganta estropiada abaixo?



Aí é que tá: quem define isso é VOCÊ. Bob Dylan não foi o primeiro, mas com ele podemos observar que não existe certo e errado para arte. As pessoas têm a tendência de adotar "movimentos de manada" com a lógica "se eu gostei, logo todos gostam e quem não gosta é uma besta".



Isso já seria errado com qualquer artista, mas há 40 anos, mais do que muitos outros, Bob Dylan gera paixões, ódios, decepções e surpresas. Ele não vai trocar o folk pelo rock ou pelo country porque você quer, ele não vai conversar com o público porque você quer, ele não vai não vai cantar "aquela" porque você quer.



E nem porque você não quer! Hoje em dia temos um pouco mais de artistas que não fazem concessões ao público. Mas igual Bob Dylan, capaz de manter a fé em tantos por tantos anos de que ele vai tocar do jeito que eles querem, ou mesmo de manter a fé em tantos de que vai ser bom mesmo que ele escarre palavras desconexas em melodias conhecidas, ainda não existe.



Então não adianta julgar quem venera cegamente ou se decepciona facilmente com o artista: o mais provável é que todos estejam certos. E errados.



Claro que com os preços abusivos dos ingressos para os shows no Brasil fica um pouco mais difícil ter opção de entrar ou não nessa brincadeira. Bob Dylan pode até valer mais, mas nem todo fã tem mais, ou até menos, para fazer seu auto-de-fé. No final das contas também estamos decidindo o quanto vale a arte.



De modo ilustrativo, seguem vídeos retirados do youtube. Os dois primeiros são "Blowin' in the Wind", começando ontem no Rio de Janeiro e chegando a 1971, no Concerto Para Bangladesh.











E, por último, a versão bastante fiel à original de "Tangled Up in Blue", em São Paulo, que se tivesse sido tocada no Rio talvez tivesse feito eu me arrepender de não ter ido:



2 comentários:

Dine disse...

E eu fui e não me arrependo. 75 contos de réis pra ver o Bob Dylan não foi tão caro assim. Foi até barato comparado com a média dos ultimos (vide Tim Festival e The Police). E a RIo Arena está aprovada, o som tava realmente muito bom. A unica coisa que nao gostei foi o fato de terem barrado qq tipo de camera (pelo menos nas cadeiras, que era onde eu estava). Nao pude registrar nada pro blog, infelizmente (ou nao, ne? hehe nao sei se ia fazer isso no final das contas). Enfim, gostei do texto. Só acho que vc deveria levar esse povo do orkut que se diz fã do Bob Dylan menos a serio... nesse mes a comunidade que vc citou ganhou pelo menos uns 2 mil novos membros. hehehe

Otaner disse...

Obrigado pelo elogio, Dine.

Não que isso queira dizer muita coisa, mas o rapaz que escreveu aquilo é mediador da comunidade do Bob Dylan. Não levo a sério, mas foi justamente o que me levou a pensar sobre o comportamento tão diferente entre pessoas fãs ou admiradores do mesmo artista.